O cenário energético mundial está passando por uma transformação sem precedentes. No primeiro semestre de 2025, energias renováveis ultrapassaram o carvão na geração de eletricidade, um marco histórico que confirma o avanço de fontes limpas em escala global.
Essas mudanças aceleradas indicam não apenas uma mudança de matriz energética, mas também a consolidação de um modelo mais sustentável, econômico e seguro para as próximas décadas.
Em 2024 e 2025, diversos recordes foram estabelecidos. As fontes renováveis produziram 5.072 TWh de eletricidade, superando os 4.896 TWh gerados pelo carvão. Além disso, o crescimento da demanda global de eletricidade foi amplamente atendido pelas energias solar e eólica, que juntas supriram 109% da alta na necessidade de consumo.
A energia solar, por si só, respondeu por 83% desse incremento, um indicador claro de sua escalabilidade e viabilidade. A capacidade instalada global de fontes renováveis alcançou acréscimos recordes de 582 GW em 2024, e as adições de capacidade solar e eólica em escala de utilidade pública responderam por quase 90% do total até setembro de 2024.
Paralelamente, a dependência de combustíveis fósseis começou a diminuir. A produção de energia a partir de carvão caiu 0,6% no primeiro semestre de 2025, enquanto a gerada por gás natural recuou 0,2%. Como consequência, as emissões de gases de efeito estufa do setor de energia também apresentaram redução, ainda que modesta, de 0,2%.
Nas principais economias do planeta, incluindo China e Índia, observou-se uma queda na geração por carvão, petróleo e gás no período analisado. Essas fontes limpas continuarão a cimentar o declínio da era dos combustíveis fósseis e conduzirão a transformação energética.
Além dos benefícios ambientais, as fontes renováveis comprovam sua superioridade econômica. Em 2024, 91% dos novos projetos de energia limpa se mostraram mais baratos que qualquer alternativa fóssil. Esse cenário é resultado direto de:
Esses fatores impulsionam a decisão de investidores e governos em priorizar fontes sustentáveis. Além disso, o uso de energia limpa permite reduzir a dependência dos mercados internacionais de combustíveis, fortalecendo a segurança energética de países importadores.
investir em energia limpa e eficiência energética também estimula a inovação, gerando empregos especializados e aumentando a produtividade em setores correlatos.
Projeções apontam que o cumprimento das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) poderia elevar o PIB global em cerca de 3% até 2050 e até 13% até 2100, mostrando o potencial econômico de uma transição acelerada.
Apesar dos avanços, o mundo ainda enfrenta obstáculos para alcançar metas ambiciosas. Os 582 GW adicionados em 2024 representam um recorde, mas estão aquém do patamar necessário para cumprir a meta de triplicar a capacidade renovável para 11,2 TW até 2030, estabelecida no Consenso da COP28.
Atualmente, é preciso uma capacidade adicional impressionante de 1.122 GW por ano de 2025 a 2030, exigindo um ritmo de crescimento anual de 16,6%. Simultaneamente, a intensidade energética global melhorou em apenas 1% em 2024, muito abaixo dos 4% necessários para manter a meta de 1,5°C viva.
Para sustentar esse ritmo, o investimento global em energias renováveis precisa saltar de US$ 624 bilhões em 2024 para pelo menos US$ 1,4 trilhão anuais durante o período 2025–2030. Atualmente, o setor privado já é responsável por três quartos dos recursos destinados à transição energética.
Essa mobilização de capital não só acelera a implantação de projetos, mas também fomenta a geração de empregos e o desenvolvimento de novas tecnologias. Com maior aporte financeiro, será possível expandir a infraestrutura de transmissão, aprimorar sistemas de armazenamento e apoiar iniciativas de eficiência energética.
O Brasil ocupa posição de destaque no cenário global. Em 2025, a capacidade solar ultrapassou 53 GW, impulsionada pela adoção em residências e empresas. O setor agroindustrial, assim como o comércio e a indústria, têm demandado cada vez mais energia limpa para reduzir custos e garantir estabilidade de fornecimento.
O mercado de armazenamento também avança. Em 2024, as instalações alcançaram 600 MWh, com projeção de US$ 3,8 bilhões em valor de mercado até 2030. Porém, persistem desafios estruturais:
Superar esses entraves exige coordenação entre setores público e privado, além de políticas claras que incentivem a capacitação de toda a cadeia produtiva.
O horizonte para o próximo ano aponta para um impulso contínuo em energia limpa, especialmente se novos modelos regulatórios e incentivos fiscais forem implementados. As indústrias de tecnologia limpa, inteligência artificial e captura de carbono deverão desempenhar papel crucial na próxima fase de expansão.
Espera-se também um crescimento de dois dígitos no Regulatory Asset Base (RAB) de infraestrutura elétrica e um aumento sustentado da demanda por eletricidade. Previsões indicam que aproximadamente 4.000 MW de novas capacidades entrarão em operação até o fim de 2025, reforçando o protagonismo das renováveis.
Os líderes globais têm reafirmado a confiança nessa transformação. António Guterres, Secretário-Geral da ONU, declarou que o futuro da energia limpa já está em curso e que essa revolução é imparável em seu ritmo e alcance. Francesco La Camera, da IRENA, reforça que estamos nos aproximando de um ponto de virada decisivo para a segurança e prosperidade globais.
Em síntese, o avanço das energias renováveis combina benefícios ambientais, econômicos e sociais. Apesar dos desafios, o engajamento de governos, investidores e sociedade civil pode consolidar essa trajetória e garantir um futuro mais justo, próspero e sustentável para todos.
Referências